As pessoas que já sofreram um Acidente Vascular Encefálico ou Cerebral (mais conhecido por AVC) enfrentam inúmeras dificuldades na hora de realizar tarefas do cotidiano, uma vez que a lesão limita os movimentos. Entretanto, aos poucos elas podem reaprender essas habilidades por meio de um processo de reabilitação. Uma pesquisa desenvolvida durante quatro anos na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP buscou dar subsídios para compreender e, consequentemente, facilitar esta recuperação.
Vinculada ao Laboratório de Comportamento Motor (Lacom) da EEFE, a pesquisa da professora Camila Torriani-Pasin procurou analisar como acontece o processo de aprendizagem motorade uma habilidade manual realizada com os membros superiores em pacientes que tiveram um AVC. Com essa finalidade, 22 pacientes foram submetidos constantemente a testes que envolviam pequenas tarefas do dia-a-dia, como pegar e encaixar objetos. “A ideia é tentar investigar como eles [os pacientes] lidam com isso conforme vão repetindo o mesmo movimento; como fazem para realizá-lo de forma mais eficiente, mais rápida e com menor gasto de energia”, conta a docente. Segundo ela, todos os pacientes eram crônicos, ou seja, já conviviam com a lesão há mais de seis meses; havia alguns, inclusive, que já a tinham há dois anos. E ao contrário do que se poderia supor, todos demonstraram que ainda conseguem aprender novas habilidades. “É muito interessante saber que mesmo depois de seis meses ou mais de lesão, o cérebro ainda continua ativo e essa pessoa ainda tem a possibilidade de aprender novas tarefas”, afirma. Outro resultado interessante da pesquisa se refere à importância do lado do cérebro em que a lesão ocorre. De acordo com a professora, os pacientes que tiveram o hemisfério esquerdo afetado apresentaram mais dificuldades em executar as tarefas e reter o que havia sido aprendido. Isso acontece porque, apesar de o cérebro funcionar de forma integrada, o planejamento motor é de maior responsabilidade do lado esquerdo. Logo, qualquer lesão nesse lado vai afetar a capacidade de o paciente planejar suas ações de forma mais significativa do que aquelas do lado direito. Impacto no tratamento - Essas novas descobertas representam uma importante ferramenta de auxílio na reabilitação dos pacientes com AVC, pois a partir do conhecimento do lado em que ocorreu a lesão, pode se determinar qual a melhor estratégia para o tratamento. “Para fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e profissionais da educação física, isso significa poder escolher atividades que possam estimular mais áreas encefálicas em que aconteçam as maiores dificuldades, que apresentem mais problemas para aquele paciente no dia-a-dia”, constata Camila. Além disso, a professora conta que a observação do modo como a aprendizagem do paciente evolui pode ajudar a inferir sobre como o cérebro está se recuperando. Uma vez que uma das áreas do órgão é lesionada, as outras ao redor tentam assumir sua função; assim, “se o paciente tem a habilidade de aprender, quer dizer que uma adaptação cerebral também está acontecendo”, diz a professora. Tendo em vista os resultados positivos, a pesquisadora afirma que há planos de dar continuidade ao estudo, dessa vez com novas abordagens: “vamos fazer a mesma comparação e investigar o mesmo fenômeno, talvez com tarefas relacionadas aos membros inferiores, ao caminhar, ou a outras propostas de membros superior”, conta. O laboratório - O Lacom já existe há 22 anos e investiga o comportamento motor em diferentes populações e situações. Atualmente com nove projetos, suas duas linhas de pesquisa estudam a aprendizagem de habilidades motoras e o desenvolvimento destas. Na primeira, denominada Organização da resposta motora e aquisição de habilidades motoras, pesquisa-se como fatores como quantidade de prática e fornecimento de instruções e feedbacks podem influenciar na forma em que a pessoa aprende certas habilidades, como as esportivas e as do dia-a-dia. Já a segunda, Análise e diagnóstico do desenvolvimento motor, abrange a questão do desenvolvimento motor humano, com pesquisas que acompanham tanto o processo de desenvolvimento infantil como o de envelhecimento em idosos. Para Camila, a diversidade dos projetos é o ponto forte do Lacom, que conta com sete professores envolvidos e cerca de 30 membros: “esse é o bacana do laboratório , ele é diversificado e a gente acaba se complementando”. Texto: Beatriz Amendola Fonte: USP Online |
Publicado em: 22/11/2010 saudeemmovimento Veja também: Fisioterapia com Você: O AVC causa milhões de mortes a cada ano |
Pesquisar este blog
terça-feira, 16 de abril de 2013
Pesquisa da USP investiga aprendizagem motora em pacientes com AVC
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário