O Menino e a Borboleta - Reynaldo Fonseca |
"Um bebê é a opinião de Deus de que o mundo deve continuar.” (Carl Sandberg)
Ben nasceu no dia 20 de setembro de 1989. Pouco depois de seu nascimento, soubemos de sua cegueira e surdez. Quando estava com três anos, soubemos também que nunca andaria.
As operações nunca pararam.
A vida de Ben hoje em dia consiste de seu professor habitual, um professor para pessoas com deficiência visual, um professor para pessoas com deficiência auditiva, um terapeuta ocupacional, um fisioterapeuta, um patologista de fala e linguagem, um pediatra, um neurologista, ortopedistas, um oftalmologista pediátrico, um otorrino, um fonoaudiólogo, um dentista, um cirurgião-dentista e um ortodontista - e ele só tem oito anos de idade.
Ainda assim, todas as manhãs meu homenzinho acorda com o maior sorriso no rosto, como se dissesse: "Ei, vocês, estou aqui para mais um dia, e estou tão feliz!"
Quando Ben estava com cerca de quatro anos, dirigia com bastante domínio sua cadeira de rodas, mas nunca havia dito uma palavra - apenas sons abertos de vogais. Então nossa família começou a botar um gravador na mesa durante o jantar para gravar os sons que Ben estava fazendo porque ele demonstrava claramente que queria participar das conversas. Pensamos que, talvez, se ele ouvisse sua voz gravada e as nossas, isso estimularia algo dentro dele.
Um dia, em setembro de 1993, a fita estava rodando enquanto eu alimentava Ben e fazia alguns sons, tentando estimular algum interesse nele. De repente, o tempo parou. Nunca esquecerei a expressão dos olhos de Ben, a concentração em seu rosto, a forma de sua boca, como ele olhava para mim de sua cadeira de rodas quando falou suas primeiras três palavras:
- Eu te amo.
Virei-me para meu marido e ele olhou para mim com os olhos cheios d'água e disse:
- Terry, eu o ouvi!
Bem disse aquelas palavras para mim e eu as tenho gravadas para ouvir sempre que precisar.
Também fico grata, pois ele não disse outra palavra desde então!
Mas, vocês sabem, eu não ouço a fita com tanta frequência. Não preciso. Sempre irei reconhecer a expressão de seus olhos – mesmo que sejam cegos - quando ele procura o meu rosto para me dar um beijo. Isso é tudo o que eu preciso.
(Terry Boisot)
Extraído do livro: Histórias para Aquecer o Coração
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