Saiba por que pais e mães são hoje o foco das ações que visam
reduzir ou controlar o peso de crianças e adolescentes
Tal pai, tal filho. Esse lema descreve como a família tem um papel importante
no avanço de uma doença que, em 30 anos, triplicou sua incidência na infância e
juventude: a obesidade. Quando as crianças vivem num ambiente onde há desatenção
com a qualidade dos alimentos ingeridos e o sedentarismo, as chances de que elas
se tornem obesas na idade adulta aumentam em 33,3%. É verdade que a patologia
está também relacionada à genética e ao metabolismo. Mas, hoje, os especialistas
acreditam que o sucesso da prevenção e do tratamento desse mal depende de
mudanças no estilo de vida da criança e, principalmente, do seu núcleo
familiar.
O fator família passou a ser relevante porque, na última década,
estudos internacionais mostraram que 80% das crianças que estavam acima do peso
entre 10 e 15 anos tornaram-se obesas aos 25 anos.
Uma recente pesquisa
apresentada na XI Conferência Internacional de Obesidade, em Estocolmo
(Suécia), por Melinda Sothern, professora de Saúde Pública da Universidade de
Nova Orleans (EUA), mostrou que a Síndrome Metabólica (desequilíbrio nos níveis
de glicemia, colesterol e pressão arterial) é mais comum entre filhos de
mulheres que engordaram muito na gravidez, ou em crianças que nasceram com peso
acima da média, bem como entre aquelas com peso inferior, mas que são
sedentárias.
O peso dos meninos
No
Brasil, a pesquisadora Maria Aparecida Zanetti Passos, do Centro de Atendimento
e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), conduziu
uma pesquisa entre adolescentes na faixa dos 10 aos 15 anos. Os resultados
indicam que a obesidade atinge uma população cada vez mais jovem, e é grande
(25,56%) o número de adolescentes brasileiros com índice de massa corpórea (IMC)
acima de 25 (IMC entre 25 e 30 é igual a sobrepeso; a partir de 30, obesidade).
E os meninos são a maioria.
O Ministério da Saúde não está alheio a esses
resultados e, por isso, tem monitorado o avanço da doença entre adultos. Em
2009, a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel) detectou que, em três anos, os índices de
sobrepeso e obesidade aumentaram de 42,7% para 46,6%.
Causas complexas
Todos esses dados trouxeram à luz a conexão existente entre hábitos
familiares e obesidade na infância, que hoje atinge 22 milhões de crianças em
todo o mundo. Além da Síndrome Metabólica, as consequências desse fenômeno são o
aumento de doenças como diabetes do tipo 2, hipertensão, problemas
cardiovasculares e apneia do sono.
Na opinião do pediatra e
nutrólogo Mauro Fisberg, coordenador clínico do Setor de Medicina do Adolescente
da Unifesp, a progressão desordenada da obesidade na juventude possui causas
complexas, que incluem a carga genética de cada um, passam pela alimentação
incorreta, e ainda contam com fatores emocionais e
metabólicos.
Entretanto, completa: "Acredito que a redução
maciça da atividade física habitual, principalmente aquela não relacionada
diretamente à prática de exercícios, é a principal causa da alteração que temos
testemunhado nos últimos 30, 40 anos".
Espalhar doces pela casa
Esse tipo de hábito estimula as
famosas "beliscadas". Proibir não é a saída, e, portanto, eles podem ser
oferecidos em horários que não interfiram nas principais refeições. As porções,
porém, devem ser controladas.
Ter muitos refrigerantes disponíveis na geladeira
O
controle da ingestão dessas bebidas deve ser gradual. É comum que crianças e
adolescentes tomem líquidos para deglutir rapidamente os alimentos. As bebidas
do tipo gasosas, além de interferirem no metabolismo ósseo e no esmalte dos
dentes, causam distensão gástrica e aumentam a capacidade de ingestão de
alimentos. Prefira beber sucos ou água.
Evitar a rotina para as
refeições
Mastigação rápida, ausência de horários e não
realização de algumas refeições são alguns dos erros mais comuns. A correção
deve ser gradual e deve partir das ações mais simples, até atingir aquelas de
maior dificuldade.
Assistir à televisão no quarto
O
tempo gasto assistindo à TV ou no computador aumenta o risco de que as crianças
sejam obesas. A Academia Americana de Pediatria recomenda não mais do que 2
horas/dia diante das telinhas, sejam elas do computador, TV, vídeos ou games.
Use o tempo livre para atividades físicas. Uma alternativa são jogos recreativos
ou eletrônicos que incentivem o movimento.
Driblar maus hábitos
A
nutricionista Flavia De Conti, da Nutrociência Assessoria em Nutrologia,
concorda e acrescenta que, do ponto de vista cultural, psicológico e social, a
criança absorve as influências de seu meio. "Por isso, os pais precisam ficar
atentos às suas próprias atitudes, sobretudo à ingestão diária de alimentos
considerados não saudáveis."
Quando o problema já se instalou, a sugestão da
Academia Americana de Pediatria é viver uma vida mais ativa. E essa atitude não
se limita apenas a driblar o sedentarismo e os fast-foods. Esse novo
paradigma exige ações como a consulta a um pediatra. O primeiro objetivo é
pesquisar possíveis causas físicas ou emocionais. "A maior parte dos
especialistas está capacitada para detectar aspectos que merecem cuidados
psicológicos. Mas o encaminhamento não é uma prática comum, embora seja cada vez
mais frequente", afirma Patrícia Spada, psicóloga clínica do Hospital Infantil
Sabará e autora do livro Obesidade infantil: aspectos emocionais e vínculo
mãe/filho (Revinter).
"Superada essa fase, seguem-se as práticas que
serão coconstruídas por profissionais e pela família", observa a nutricionista
Camila Leonel Mendes de Abreu, do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente
da Unifesp. "Cada grupo familiar deve ser compreendido e acolhido com sua
história, valor, crença e saber", observa.
Obesidade com
psicologia
Patrícia Spada explica que, algumas vezes,
quadros de obesidade podem estar vinculados a dificuldades de socialização,
baixa autoestima, baixo rendimento escolar, reações agressivas sem motivo
aparente (em casa ou na escola), dificuldade em se separar dos pais (dormir,
comer, vestir-se sozinhos) ou realizar tarefas de rotina, tristeza significativa
ou ansiedade que se refletem na forma e quantidade de alimentação. "Não
raramente, a criança se sente pressionada demais pelos pais, sem condições
emocionais, e muitas vezes físicas, para responder às suas expectativas",
completa a psicóloga.
Por isso, o diagnóstico de obesidade é sempre um drama
para a família, pois ele reflete seu desespero e impotência. A situação requer
mudanças e isso pode ser bastante desconfortável para todos.
Faça o que digo, não o que
faço
Apesar desses aspectos, quando os pais se
conscientizam do impacto da dinâmica familiar na saúde dos filhos e compreendem
que são estes as maiores vítimas da ridicularização, eles geralmente se apressam
na prática de novas formas de viver, o que exige coerência. A regra do faça o
que eu digo, não o que eu faço, já não valerá mais.
"Seja num tratamento ou
na prevenção da obesidade, o segredo é mudar os costumes alimentares da casa e
da criança, aumentando a prática de atividades físicas", comenta a nutricionista
Marize Martins, da Clínica Médica Desportiva Cardiomex (RJ).
E a melhor forma
é enfrentar o problema. "Os pais devem mobilizar suas forças para o entendimento
dos motivos que levaram a criança a se tornar obesa. E, por outro lado, precisam
agir como um time na prática de atitudes que levem à modificação de hábitos
prejudiciais à saúde de todos", diz Patrícia.
Comer muito fast-food
Não proibir
alimentos com elevado conteúdo calórico pode limitar a adesão ao novo estilo de
vida. Se for impossível evitá-los, a solução é ficar de olho nas porções: evite
as individuais e tamanhos grandes.
Dar o mau exemplo
Um estudo publicado
no International Journal of Obesity concluiu que o comportamento dos
pais, mais do que a genética, pode influenciar negativamente filhos do mesmo
sexo. Prefira alimentos nutritivos e evite trazer os não saudáveis para casa;
controle as porções; desligue o computador e a TV e inclua atividades físicas à
sua rotina.
Não fazer as refeições sentados à
mesa
A aceitação dos alimentos se dá por repetição,
exposição e pelo condicionamento social. O modelo para o desenvolvimento de
hábitos e preferências é familiar. Desde o primeiro ano de vida, a criança deve
observar como as outras pessoas se alimentam. O ambiente deve ser calmo e
tranquilo. Livre-se da TV e das distrações (brincadeiras e jogos). A atenção
voltada para o ato de alimentar-se ativa os mecanismos de saciedade no
organismo.
Só sair de casa no carro da
família
Atividades físicas previnem e controlam a
obesidade, apesar das tendências genéticas. As pesquisas mostram que filhos de
pais ativos, com idades entre 4 e 7 anos, têm seis vezes mais chance de ser
ativo.
Fonte: revistavivasaude