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sábado, 21 de dezembro de 2013

O verdadeiro espírito de Natal





Texto reproduzido do blog O Portal


"Pelo fato de haver praticamente vivido dos 7 aos 12 anos de idade, dentro de um pequeno Piper Cub pilotado por meu pai, histórias sobre aviadores e aviões me são bastante caras. Abaixo, relato da maneira como me foi contada essa História Natalina. Vale ressaltar que até a Segunda Guerra Mundial nós sabíamos perfeitamente quem era o mocinho e quem era o bandido. Hoje, infelizmente..." H.C.


Naquela manhã de 24 de dezembro de 1943, Charles Brown, de 21 anos, era o comandante do Boeing B-17 do 342º Grupo de Bombardeio em Kimbolton, Inglaterra. Seu B-17 era chamado “Ye Olde Pub” e se encontrava em terrível estado, após ser atingido diversas vezes por fogo antiaéreo e caças durante uma difícil missão de bombardeio de uma fábrica em Bremen, na Alemanha. Todo o equipamento de orientação, bússola, rádio, etc, estavam danificados e o avião absolutamente desorientado, se dirigia perigosamente cada vez mais para dentro do território alemão ao invés de voltar para a base em Kimbolton. Dos dez membros da tripulação sete estavam seriamente feridos e ele próprio sangrava, com um estilhaço encravado no ombro esquerdo.
Após um rasante sobre um aeroporto inimigo, Charlie Brown enquanto guiava o seu agonizante bombardeiro de volta para a base, sentiu o coração gelar quando olhou para a janela direita e viu que um Messerscmidt 109, avião de caça, armado até os dentes, voava junto à sua asa, perigosamente perto do que restava da sua Fortaleza Voadora.

O piloto de caça alemão, Franz Stigler havia sido ordenado a decolar e derrubar o que restava do B-17. Ao se aproximar do quadrimotor, o alemão não pôde acreditar no que estava vendo. Nunca tinha visto uma aeronave em estado tão ruim. Da cauda e da sessão traseira da aeronave pouco restava, o artilheiro de cauda estava ferido. O artilheiro de dorso tinha seus restos espalhados pela fuselagem. O nariz da aeronave estava esfacelado, e havia furos enormes por toda parte. Era só destruição.

Bem armado, Franz voou para o lado da Fortaleza Voadora e olhou fixamente para Charlie Brown que aterrorizado lutava para manter no ar seu destruído e ensanguentado avião. Parecia incrível que aquele B-17 tão despedaçado permanecesse no ar. Brown fazia de tudo para alcançar as costas da Inglaterra há 400 quilômetros dali.

Percebendo que os americanos não tinham a menor ideia de onde se encaminhavam, o piloto alemão começou a balançar as asas indicando que ele deveria virar 180 graus. Assim foi feito e Franz voou ao lado, escoltando o bombardeiro até o Mar do Norte, em direção à base na Inglaterra. Então, inesperadamente ele saudou Charlie Brown e voltou ao continente.

Ao pousar Franz, preencheu os formulários de praxe atestando haver derrubado o B-17 em pleno mar. Ele nunca disse a verdade a ninguém. Na chegada à Base, Charlie Brown e seus tripulantes contaram a verdade no relatório, mas receberam ordens de não comentar o incidente.

Mais de 40 anos se passaram e Charlie Brown não conseguia esquecer o incidente e queria encontrar o piloto da Luftwaffe que tinha salvado sua tripulação. O episódio do piloto alemão que recusou-se a atacar o adversário ferido continuava a lhe perseguir. Brown continuava no firme propósito de encontrar o piloto inimigo que o havia ajudado a chegar a base distante. Franz por sua vez jamais falou sobre a aventura, nem mesmo em reuniões no pós-guerra.

Quis o destino que eles se encontrassem numa reunião do 342º Grupo nos EUA em 1989, junto com outros cinco tripulantes do B-17. Brown escreveu numerosas cartas para fontes militares alemãs, mas teve pouco ou nenhum sucesso. Finalmente, uma pequena nota em jornal de veteranos da Luftwaffe exibiu uma resposta de Franz Stigler, ás de 28 vitórias aéreas. Ele, descobriu-se finalmente, foi aquele anjo misericordioso nos céus da Alemanha naquele fatídico 24 de dezembro, Véspera do Natal de 1943.

Foram 46 anos de espera, mas em 1989 Charles Brown, após uma troca de cartas, encontrou o misterioso homem do Me 109. Sabatinado, Stigler discorreu sobre detalhes comuns aos dois aviadores e não restou a menor dúvida sobre sua identidade. Na sua primeira carta para Brown, Stigler escreve:

- “Após todos esses anos, imagino o que aconteceu com o B-17, ele sobreviveu?”

Sobreviveu, por pouco. Mas porque o alemão não destruiu sua presa, absolutamente indefesa?

- “Não tive coração para aniquilar aqueles bravos homens, disse Stigler. Voei ao lado deles por um longo tempo. Eles tentavam desesperadamente voltar para a Base, e eu ia permitir que o fizessem. Eu não podia ter atirado neles”.

Após a guerra Stigler emigrou, para o Canadá e viveu perto de Vancouver, na Columbia Britânica. Um certo dia Brown voou para lá para uma reunião. Confraternizaram.

- "Ele quase quebrou minhas costelas, tão forte foi o seu abraço, disse Brown”.

Dai em diante os dois se visitaram com frequência e apareceram juntos em eventos militares nos EUA e Canadá. No Air Force Ball de Miami em 1995, os dois receberam diversas honrarias. Franz Stigler faleceu no dia 22 de março de 2008, aos 92 anos de idade.

Toda essa história aconteceu porque Franz Stigler não disparou suas armas naquele 24 de dezembro de 1943."


Hugo Caldas.
 
 
 
[Outra fonte relata que Stigler havia seguido o conselho de seu antigo comandante Gustav Rödel,  que - durante a campanha do Norte da África - lhe havia ordenado que jamais atirasse em um piloto inimigo que tentava escapar de paraquedas (um bom soldado aprende com seu comandante), ele também não contou a ninguém o que havia ocorrido naquele dia tão especial.  Charlie Brown, morreu 8 meses depois, em 25 de novembro de 2008, aos 86 anos de idade.]
 
Assista o vídeo (em inglês) sobre esta grande história:

Bf 109 pilot Franz Stigler and B-17 pilot Charlie Brown's first meeting

youtu.be
 

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