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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Educação na medida certa



Coitadinho? Ah, tadinho? Ou atadinho, amarradinho, colocado como frágil, fraco, preso, superprotegido, sem poder desenvolver-se? É comum dizer que “é bebendo leite que o bezerro vira touro”. Não é? Bebendo leite demais ele acaba virando um bezerrão. O bezerro só se torna touro quando tem que procurar, achar e comer o capim.
O despertador, fiel às ordens do adulto de ontem à noite, faz o seu barulho. O bebezão ouve, acorda, desliga, vira para o outro lado e, irritado com a perturbação, volta ao sono. “Afinal, não veem que eu estou cansado? Ah, tadinho, me deixa ficar mais um pouquinho, só hoje, vai...” Sem dúvida, o adulto de ontem à noite estava mais lúcido, mais chefe de si mesmo e a criança sonolenta deveria simplesmente respeitar o que havia sido combinado entre os dois. Mas de manhã entra a vovó no jogo, mimando e dominando. Caberá ao adulto, mais tarde, com a autoestima no nível do calcanhar arranjar desculpas para mais esta predominância do bebezão e da vovó. Síndrome BAI, de baixa autoridade interna.
A superproteção vem, em geral, de sentimentos bons, como carinho, zelo, proteção. A palavra proteção vem de ‘pro – tectum - actio’, ação de colocar um teto, que não deixa chover, mas também não deixa crescer. Portanto, tem que ser respeitado um limite para esta proteção, deixando espaço suficiente para o desenvolvimento.
É uma sofisticada bondade: a “generosidade de não dar”, para que o outro possa aprender a fazer e conquistar por si próprio, ganhando competência, autoestima e independência. Como quase sempre em educação, há dois perigos opostos: de um lado pode haver o não percebido e voraz desejo de permanecer indispensável, mesmo que à custa da infantilização do outro. No lado oposto, a alegação de “dar liberdade e respeitar o desenvolvimento espontâneo”, pode ser mero pretexto para o egoísmo e a displicência.
Ninguém falou que educar é tarefa simples – o importante é tentar, observar, indagar, buscar orientação, sem considerar-se o dono da verdade.

Dr. Mauro Moore Madureira, psiquiatra do Einstein

Fonte: blog.einstein

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