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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Alguns momentos da Orientação Educacional

 
Este texto foi escrito por uma amiga muito querida, excelente profissional. Feliz da escola que possui profissionais tão dedicados assim!



 
Alguns momentos da Orientação Educacional
 
Por Silvana de Araújo Carniel
 
 
Quando entro em turmas para me apresentar, no início de ano, e há alunos novos, oriundos de outras escolas, em seguida me questionam:
- Ah! Tu é do SOE, lá daquela sala que ficam os que incomodam?
 
Sempre explico que eles não necessariamente precisam ter incomodado para procurar o SOE, basta estar com uma vontade de conversar  com alguma pessoa sobre situações que às vezes nos chateiam muito e não temos com quem desabafar. Algumas vezes os professores acham importante que o aluno vá conversar com a orientadora para repensar alguma situação de sala de aula ou para reparar algum "dano".
 
Sei que esses alunos ficam duvidando. Infelizmente, algumas vezes a ideia inicial desses alunos se confirma. A rotina de Escola não é fácil...
 
Quando pensei em escrever para a revista pedagógica, ao mesmo tempo estava concluindo a leitura do livro da Clarice Lispector, Aprendendo a Viver. Então gostei da ideia de enriquecer este relato com algumas citações da Clarice Lispector, retomando a minha prática na Escola. A realidade social da maioria dos nossos alunos é de grande carência, com reflexo direto no aspecto emocional, dificultando assim seus processos de socialização (relacionamento com colegas, professores, funcionários e pais) e aquisição de aprendizagens "escolares" propriamente ditas. É especificamente a partir dessas carências que se desdobra a ação pedagógica da orientação educacional.
 
Sinto que quando me aproximo de um aluno para conhecê-lo melhor, seja através de conversa individual ou com famílias, compreendo em seguida as razões de suas atitudes. Compreender as razões não significa aceitá-las, mas é o primeiro passo para estabelecer empatia e pensar junto que outras possibilidades existem para resolver determinado conflito. Quando o aluno se sente observado, acompanhado, querido e "importante" por algum professor, supervisor, diretor ou orientador, um bom caminho já está sendo trilhado - é claro  que existem muitos casos que estão aquém deste trabalho, por conta do graus das dificuldades emocionais e do contexto de cada um.
 
Às vezes quando vejo uma pessoa que nunca vi, e tenho algum tempo para observá-la, eu me encarno nela e assim dou um grande passo para conhecê-la. E esta intrusão numa pessoa, qualquer que seja ela, nunca termina pela sua própria autoacusação: ao nela me encarnar, compreendo-lhe os motivos e perdoo. (Lispector, 2004, pag 118).
 
Outro aspecto de fundamental importância, que parece redundância falar, mas precisa ser mencionado, é a autoestima. Nossos alunos, muitos, possuem baixa autoestima, a qual é primeiramente introduzida pela família e, em alguns momentos, reforçada por nós na escola. É verdade também que tenho presenciado professores preocupados, tentando buscar um caminho para auxiliar esses alunos. Frequentemente é solicitado que o Setor de Orientação Pedagógica  converse com os responsáveis pelos alunos a fim de que possam conversar mais com seus filhos, escutar mais, estabelecer limites com amor e firmeza, entender e elogiar os esforços sempre que forem percebidas tentativas de melhoria.
 
O que preocupa é a formação da imagem que cada um faz de si mesmo a partir do que vai ouvindo no dia a dia das pessoas que representam autoridade para eles.

[...]Thoreau  achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. É também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: "A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos". É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente, julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois "o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino". (Lispector, 2004, p.113).
 
Não posso deixar  de mencionar os vários momentos que há frustação nesta caminhada, e o quanto é maravilhoso encontrar colegas ou amigos encorajados, comprometidos com o desenvolvimento humano. Então, conseguimos renovar o entusiasmo e buscar sempre o que pode fazer a diferença.  
 
 
Fonte: PRETEXTOS Revista Pedagógica da EMEF Vila Monte Cristo - Março de 2013.

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