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terça-feira, 16 de abril de 2013

Nelson Mandela atuando com graça na busca da justiça

[Achei muito gratificante esta matéria e queria compartilhar com vocês. Um momento para refletir sobre estes dias e os dias que virão...]


Mãos


A cruz de Jesus Cristo tem dois paus, um horizontal e um vertical. Podemos dizer que um representa a justiça e o outro a misericórdia. Precisamos dos dois em nossa vida, na sociedade, nas relações de família, se não ninguém aguenta! Se for só justiça, fica pesado demais, seco, sem recheio, sem colorido, legalista. Se for só misericórdia, tudo acaba em pizza e os valores, a ética, o bom senso, os limites, e a própria justiça, vão para o brejo.
Jesus não anulou a necessidade de guardar a Lei Moral, os Dez Mandamentos, porque Ele era misericordioso. Ele acrescentou à Lei a misericórdia. Sem lei vira anarquia. Só com a lei, vira legalismo. O que permeia deve ser a graça. A graça é a doçura que alivia situações amargas da vida. É a força para lidar com as perdas, as decepções, as traições, as injustiças. Graça é algo feito para com pessoas que não merecem talvez nada.
Na cruz, morrendo pela humanidade, Jesus, após ser açoitado, cuspido no rosto, condenado por um tribunal corrupto, gemendo de dor espiritual (maior que a dor física) pela ideia de ser cortado da presença do Pai ao assumir nossos pecados, olhando as pessoas ao redor que num momento O haviam louvado, e em seguida condenado, pedindo a libertação de Barrabás, um ladrão vagabundo e fútil, Ele, movido pela graça e pela misericórdia, disse: “Pai, perdoa essas pessoas! Elas não sabem o que fazem!” Você consegue dizer isso, primeiro em seu coração, e depois para uma pessoa que o maltratou muito, o traiu, matou um parente seu, enganou você maldosa e persistentemente?
 
“Nelson Mandela ensinou ao mundo uma lição sobre a graça quando, depois de 27 anos de prisão e depois de ser eleito presidente da África do Sul, ele pediu que seu carcereiro se juntasse a ele na cerimônia de posse e recrutou policiais africâneres como seus guarda-costas. Em seguida ele nomeou o arcebispo Desmond Tutu para chefiar a Comissão de Verdade e Reconciliação, uma forma criativa de mostrar a repulsiva verdade da opressão sem exigir vingança. De acordo com as regras da Comissão, se um opressor enfrentasse seus acusadores e confessasse plenamente seu crime, ele não poderia ser processado por esse crime. Alguns sul-africanos protestaram contra a injustiça de deixar criminosos em liberdade, mas Mandela insistiu em que o país precisava mais de cura do que de justiça.” (Philip Yancey, “Para que serve Deus”, pág. 273, Editora Mundo Cristão, São Paulo, 2010).
Yancey conta uma história fantástica da atuação da graça relatada naquela Comissão: “Um policial chamado Van de Broek relatou um acontecimento em que ele e outros oficiais atiraram contra um rapaz de dezoito anos e queimaram seu corpo, virando-o no fogo como um pedaço de churrasco, para destruir as provas. Oito anos mais tarde, Van de Broek voltou à mesma casa e pegou o pai do rapaz. A esposa foi obrigada a olhar os policiais amarrarem o marido a um monte de lenha, derramar gasolina sobre seu corpo e atear-lhe fogo. O tribunal ficou em silêncio quando a senhora idosa que perdera primeiro o filho e depois o marido teve a oportunidade de responder. ‘O que a senhora quer do sr. Van de Broek?’, perguntou-lhe o juiz. Ela disse que queria que Van de Broek fosse ao local onde queimaram o corpo de seu marido e recolhesse as cinzas para que ela pudesse lhe dar uma sepultura decente. Cabisbaixo, o policial fez um gesto concordando. Depois ela acrescentou mais um pedido: ‘O sr. Van de Broek me tirou toda a família, e eu ainda tenho muito amor para dar. Duas vezes por mês, eu gostaria que ele viesse ao gueto e passasse um dia comigo para que eu possa ser uma mãe para ele. E eu gostaria que o sr. Van de Broek soubesse que ele foi perdoado por Deus, e eu também o perdoo. Eu gostaria de abraçá-lo para que ele saiba que meu perdão é real’”. (idem pág. 273,274).
Yancey diz que no tribunal alguns se puseram a cantar espontaneamente o hino “Maravilhosa Graça” no momento quando a senhora foi andando em direção ao banco das testemunhas, mas o policial Van de Broek não ouviu o canto, e sabe por que? Ele havia desmaiado, esmagado fisicamente pela graça!
“Não se fez justiça naquele dia na África do Sul, nem se fez no país inteiro à medida em que a Comissão de Verdade e Reconciliação foi expondo atrocidades aos olhos de todos. Algo além da justiça aconteceu: o primeiro passo para a reconciliação.” (pág. 274).
 
Gandhi disse que se procurarmos viver olho por olho, dente por dente, em breve o mundo estará com pessoas cegas e desdentadas! Jesus mostrou um caminho fantástico de convivência, de justiça, de reconciliação, que é vencer o mal com o bem. “O mal é vencido com o bem se a parte injuriada absorver o mal, recusando-se a permitir que ele prossiga.” (pág. 274). Creio que só pela graça de Deus é possível andar num caminho assim.
 
 
E nisto creio!

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